sábado, janeiro 28, 2012

Há dez anos...

... por esta hora (13h00m) o meu coração diminuía a cada hora, minuto e segundo que passavam. O meu pai estava no hospital para ser submetido a uma intervenção cirúrgica. Não uma qualquer: ao coração, aquele que é o nosso órgão principal e que se falha nos leva tudo. 
O chão tinha-me sido retirado, precisamente, uma semana antes quando, ao chegar de uma noite com amigos, tinha várias chamadas e mensagens da minha mãe no telemóvel. Eu tinha estado num local sem rede e não ouvi nenhum aviso. A primeira mensagem gelou-me todinha, por dentro, por fora, por mim toda: "Vem ter com a mãe ao hospital. O pai sentiu-se mal e estamos aqui à tua espera". A minha vida parou e o meu cérebro não conseguia raciocinar. Há momentos que não esquecemos. A minha amiga SLR prontificou-se logo a levar-me e acho que nunca ela conduziu tão depressa como naquele dia. Quando chegámos encontrei os meus padrinhos que tinham ido com a minha mãe que estava "lá dentro". À pergunta: "O meu pai?" responderam-me "Tem calma, a mãe está lá dentro e ainda não sabemos nada. O pai dizia que era no coração, que tinha uma impressão e veio de ambulância". Fui gelando cada vez mais, estavam ali há duas horas e ninguém sabia nada. Estivémos algumas horas sem qualquer diagnóstico, entretanto a minha mãe veio falar connosco, e nada, era sempre nada. Quando às seis da manhã nos disseram para ir para casa descansar ainda não havia diagnóstico definitivo e a angústia era enorme e o chão continuava a não estar lá para nenhuma de nós as duas. Não descansámos, não dormimos, não nada. Tomámos um banho, mudámos de roupa, comemos qualquer coisa e voltámos para o hospital. 
Quando três pessoas são unidas como nós, quando o sentido de família é vivido como nós o vivemos, deixar um no Hospital é ficar sem saber o que fazer, nem sequer como beber um copo de água, era um bocado de nós que lá estava e a falta era muita. E o não ter diagnóstico dava uma incerteza dolorosa. Regressámos, falámos com o médico, Daniel Ferreira (ainda hoje o cardiologista do meu pai), e já havia diagnóstico: enfarte do miocárdio. Tinha de ser operado, ia fazer um bypass e depois tudo ficaria bem. a operação estava já marcada para dali a uma semana, o dia que se comemora hoje.
Estávamos todos nervosos, nós e os amigos, afinal o coração é o coração. Tentámos das mais diversas formas distraí-lo e distrairmo-nos, mas quando o mundo parece estar a desabar até a mais pequena distração é forçada. Aguentámos o dia e demos ao pai toda a força do mundo, enquanto nos consumíamos por dentro e encontrávamos forças sabe Deus onde. Confesso que, provavelmente vencida pelo cansaço de uma semana angustiante, adormeci durante a operação e acordei quando a enfermeira nos veio dizer o que mais queríamos ouvir: "Podem ficar tranquilas; correu tudo bem; o Professor Fragata já vem falar convosco. Daqui a pouco uma colega já cá vem para que as senhoras possam ir ver o marido e pai. Mas estejam descansadas". E respirámos de alívio e chorámos de alegria e abraçámo-nos muito e, até acho, que descomprimimos um pouco. E depois fomos visitá-lo e apesar de não puder falar, devido aos tubos, estava ali e sabemos que nos ouviu, porque reagiu e percebeu que éramos nós a falar com ele. Estávamos todos aliviados e muito mais felizes. A recuperação passava por uma semana de hospital e eu visitava-o  diariamente enquanto a minha mãe passava dia e noite com ele. Todos os dias víamos melhoras e hoje aqui estamos os três ainda felizes e a comemorar o dia em que nos fortalecemos ainda mais, o dia em que ficámos ainda mais próximos, se é que isso é possível.
Hoje comemoramos, estamos em festa e celebramos a vida. Damos-lhe um valor muito maior e estamos conscientes disso. O mais importante é que ainda estamos juntos e assim estaremos por muito mais tempo. O chão regressou e cá tem estado para nos amparar e não nos deixar cair. Hoje estou feliz e sei que todos os dias amo estes dois cada vez mais com todas as minhas forças. 
Saudações virtuais

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