Nem sei por onde começar. Desculpa-me, mas tenho de dizer que foste um tonto. Estavas cansado e aquela dor pedia ambulância, hospital e assistência especializada. Não a quiseste e tivémos o segundo grande desgosto daquele malfadado mês de Agosto de 1998. Mais uma partida da vida que não consigo perdoar-lhe e a ti muito menos. É difícil explicar o que senti, eras de facto o MEU TIO. O TIO ESPECIAL, que todos acabamos por ter. Não que não ame os restantes, mas é daquelas coisas que não se explicam apenas se sentem.
Em época de regresso às aulas lembro-me sempre de ti, porque há muitos anos fizeste questão de me oferecer a minha primeira pasta. Aquela onde eu arquivava papéis importantissímos, por mim rabiscados quando ainda não sabia nem ler nem escrever. Era castanha e tinha um veado parecido com o Bambi. E era mesmo uma pasta. Não era uma mochila, não era uma mala de pôr a tiracolo. Era uma pasta. Como eu me sentia importante do alto dos meus quatro/cinco anos ao sair de casa com uma pasta. Tu foste o responsável por essa atitude na altura.
E as tuas gargalhadas? E as tuas piadas? E os momentos de boa disposição que tinhas sempre disponível para os teus sobrinhos? Grandes tardes, grandes passeios, grandes serões passámos acompnhados da tua boa disposição que não passava indiferente a ninguém.
Não me lembro, porque tinha uns dois/três anos, mas sei que fui esperar-te quando regressaste de Angola. A Guerra... Esse foi, de facto, o único trauma, se assim lhe posso chamar, que te conheço. Gritos ao pé de ti, NUNCA! Nem quero imaginar os horrores que trouxeste na cabeça, mas nunca, por algum momento, fomos mal tratados por causa disso. Ao teu pedido para falarmos mais baixo, todos, pequenos ou graúdos, acediamos sem excepção.
Vimos grandes filmes juntos, grandes westerns e quando o John Wayne aparecia, o mundo parava para sonharmos com índios e cowboys.
Há um momento na tua vida
(ouso dizer, nas nossas) que nunca vou esquecer: quando me ligaste e disseste "O Manuel nasceu". Foi a alegria para todos. Foi a tua maior alegria! Ser pai, pela primeira vez, quando já se tem meio século de vida foi sem dúvida o teu maior momento. Pena que dois anos depois tenhas ido embora sem pré-aviso, sem aviso, sem te despedires de nós todos. Sem nada... Deixa-me dizer-te que o teu puto está o máximo e adora-te. Quando falamos do pai os olhos dele brilham. Quando fala do pai os olhos dele rebrilham. Ele tem muito orgulho em ti e, confesso, eu, pela minha parte, faço tudo para cultivar nele esse sentimento. Adora ouvir as tuas histórias e tudo o que saibamos sobre ti. Convivi contigo durante 27 anos e tenho tantas histórias lhe contar. Faço questão de o fazer sempre que me é possível. Como passo muito tempo com ele, de quando em vez lá vem mais uma aventura com o tio Manuel. Ele ouve sempre com muita atenção e depois faz milhentas perguntas. Não é justo, de facto, terias sido um grande pai. Um dos melhores do mundo, mas preferiste ser forte. A tia também está bem e vive cada momento para o petiz que anda lá por casa. São muito amigos: mãe e filho e filho e mãe. É natural!
Acho que já sabias isto tudo, mas há coisas que por escrito soam melhor e eu tinha de o fazer. De vez em quando lá te vejo a brilhar no céu, és tu não és? Eu penso sempre que sim.
Despeço-me com uma grande beijoca de eterna saudade LB
Saudações virtuais
NB: Apesar de ter alguns dias de atraso, tinha de fazer esta homenagem. Um cyber-café não teria ambiente para tal
Em época de regresso às aulas lembro-me sempre de ti, porque há muitos anos fizeste questão de me oferecer a minha primeira pasta. Aquela onde eu arquivava papéis importantissímos, por mim rabiscados quando ainda não sabia nem ler nem escrever. Era castanha e tinha um veado parecido com o Bambi. E era mesmo uma pasta. Não era uma mochila, não era uma mala de pôr a tiracolo. Era uma pasta. Como eu me sentia importante do alto dos meus quatro/cinco anos ao sair de casa com uma pasta. Tu foste o responsável por essa atitude na altura.
E as tuas gargalhadas? E as tuas piadas? E os momentos de boa disposição que tinhas sempre disponível para os teus sobrinhos? Grandes tardes, grandes passeios, grandes serões passámos acompnhados da tua boa disposição que não passava indiferente a ninguém.
Não me lembro, porque tinha uns dois/três anos, mas sei que fui esperar-te quando regressaste de Angola. A Guerra... Esse foi, de facto, o único trauma, se assim lhe posso chamar, que te conheço. Gritos ao pé de ti, NUNCA! Nem quero imaginar os horrores que trouxeste na cabeça, mas nunca, por algum momento, fomos mal tratados por causa disso. Ao teu pedido para falarmos mais baixo, todos, pequenos ou graúdos, acediamos sem excepção.
Vimos grandes filmes juntos, grandes westerns e quando o John Wayne aparecia, o mundo parava para sonharmos com índios e cowboys.
Há um momento na tua vida
(ouso dizer, nas nossas) que nunca vou esquecer: quando me ligaste e disseste "O Manuel nasceu". Foi a alegria para todos. Foi a tua maior alegria! Ser pai, pela primeira vez, quando já se tem meio século de vida foi sem dúvida o teu maior momento. Pena que dois anos depois tenhas ido embora sem pré-aviso, sem aviso, sem te despedires de nós todos. Sem nada... Deixa-me dizer-te que o teu puto está o máximo e adora-te. Quando falamos do pai os olhos dele brilham. Quando fala do pai os olhos dele rebrilham. Ele tem muito orgulho em ti e, confesso, eu, pela minha parte, faço tudo para cultivar nele esse sentimento. Adora ouvir as tuas histórias e tudo o que saibamos sobre ti. Convivi contigo durante 27 anos e tenho tantas histórias lhe contar. Faço questão de o fazer sempre que me é possível. Como passo muito tempo com ele, de quando em vez lá vem mais uma aventura com o tio Manuel. Ele ouve sempre com muita atenção e depois faz milhentas perguntas. Não é justo, de facto, terias sido um grande pai. Um dos melhores do mundo, mas preferiste ser forte. A tia também está bem e vive cada momento para o petiz que anda lá por casa. São muito amigos: mãe e filho e filho e mãe. É natural!
Acho que já sabias isto tudo, mas há coisas que por escrito soam melhor e eu tinha de o fazer. De vez em quando lá te vejo a brilhar no céu, és tu não és? Eu penso sempre que sim.
Despeço-me com uma grande beijoca de eterna saudade LB
Saudações virtuais
NB: Apesar de ter alguns dias de atraso, tinha de fazer esta homenagem. Um cyber-café não teria ambiente para tal
4 comentários:
O teu tio Manuel devia ser uma pessoa excelente...
Fizeste-me chorar. Mas não digas a ninguém.
undisclosed recipient,
não tenhas dúvidas: era mesmo. Aqui não haveria espaço para metade das histórias. O teu segredo está bem guardado comigo, está descansada que não digo. (Mas à tua conta o meu cantinho vai transformar-se numa piscina lol já viste o comentário anterior q aqui deixaste? lol)
scorpiowoman,
qual aquário qual quê? Isto já é um oceano. :-) Nunca pensei que as minhas palavras tivessem este efeito noutras pessoas. E sim, adoro o puto do fundo do coração e não há palavras para descrever isso.
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