quinta-feira, janeiro 26, 2012

O dístico (2)


Lembram-se disto? Pois bem, todos os dias, quando chego a casa, coloco um talão provisório no tablier do carro no qual está a indicação de que aguardo o respectivo dístico para colocar no meu “suspiro” (petit-nom que, como sabeis, dou à minha viatura). E todos os dias penso de mim para “comim” que tenho de ir levantar o famoso autocolante que me permitirá estacionar na freguesia onde resido, nos locais reservados a residentes, sem ter qualquer custo enquanto ali permaneço, contudo, também me lembro sempre que a funcionária da Câmara me disse que mo vinham entregar a casa. Portanto, essa esperança e o meu esquecimento impedem-me de me dirigir ao parque de estacionamento onde levantarei o dístico mágico. E ali anda o papelinho e eu numa aventura diária em que o retiro, do tablier, quando entro no carro e o coloco quando todos os dias regresso a casa e estaciono para recolher ao meu lar, doce lar. Constatei outro dia que ando nesta vida há dois meses e que, “ralmente”, já está na hora de ir levantar o título definitivo, porque, afinal, não mo vieram entregar a casa e era essa a minha última esperança de procrastinadora nata.
No dia em que passavam, precisamente, dois meses sobre o meu pedido, tocaram à porta. Mamãe Blue chamou-me dizendo-me que era para mim e vinham trazer o dístico. E lá fui eu toda contente enquanto pensava “Está tudo tratado e posso parar de procrastinar!” Seguiu-se um momento, no mínimo, hilariante:

Sr. do Parque - Boa tarde! É a D. Blue?

Eu - Sim, sou eu. Vem entregar-me o dístico do parqueamento, não é? – com um sorriso enorme estampado em minha face.

Sr do Parque - Não, venho entregar-lhe este papel com o qual deverá ir agora levantar o dístico lá.

Eu - Lá? Lá onde?

Sr. do Parque - Lá no parque de estacionamento de onde eu vim agora.

Eu - Mas eu pensava que me traziam o dístico e eu não teria necessidade de ir levantá-lo.  Até já estive para ir ao parque…

Sr. do Parque - Não teria levantado de qualquer forma, porque só pode levantar com este papel que lhe estou a dar agora. Porque quando entregamos este aviso é porque o dístico já pode ser levantado.

Eu - Então o senhor vem do parque de estacionamento traz o talão para levantar o dístico e não trás o dito que lá ficou? Sinceramente… Boa tarde então e obrigada... *isto tudo com um ar muito irónico e um enorme sorriso amarelo*

Sr. do Parque - E tem de levar mesmo esse talão, porque com o outro não lhe dão o dístico. Boa tarde!

De maneiras que é assim: há um primeiro talão, para colocar no carro, e agora um segundo talão, para ir levantar o dístico, e este segundo talão, entregue em mão e em casa, vem do mesmo sítio onde está o dístico que tem de ser levantado em pessoa no parque, porque só trazem o segundo talão a casa. Ah, a juntar a isto tudo há o horário deste prático serviço: todos os dias, excepto sábado e domingo, entre as 11h e as 12h e entre as 19h e as 20h. Há também o chamado Simplex, mas isso agora não interessa nada.
Procrastinadora assumida, que sou, tenho agora o segundo talão em cima do móvel da entrada. Todos os dias olho para ele e todos os dias “dou um toque” com a mão na testa e digo “Ainda não fui buscar o dístico!” E assim andamos felizes, eu, o primeiro talão que todos os dias coloco e retiro do carro e o segundo talão, que serve para levantar o dístico, ali pousadinho no móvel da entrada à espera de voltar ao seu primeiro domicílio.

Saudações Virtuais

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